Manipulação Visceral



A Manipulação Visceral e a Minha Experiência
Prof.ª. Dee Ahern (Barral Institute USA)
Ao longo dos anos da minha prática de Manipulação Visceral, terapia aplicável a clientes de todas as idades, dos mais novos aos mais velhos, tenho podido constatar a sua eficácia e a duração dos seus efeitos.


Dos inúmeros casos clínicos que poderia apresentar saliento por exemplo o de um menino de 3 anos que sofria de estenose do pilorum, cuja cirurgia de reparação estava programada para a semana seguinte. Trabalhando com técnicas do nível 1 do curso de manipulação visceral, relativas aos esfíncteres, o pequeno foi capaz de passar a reter os alimentos, nutrindo-se, tendo ficado livre de dores com apenas uma sessão.

Diversos pacientes que se apresentavam com queixas lombares relacionadas com espasmos do músculo “psoas”, e que tinham tido tratamentos mais tradicionais de fisioterapia/osteopatia, beneficiaram 
Muito do trabalho visceral, nomeadamente através de manipulações do fígado, rins e ceco, conforme a “escuta” do cliente direccionava o terapeuta.
Clientes com dores e disfunção no ombro também sentiram alívio na sequência da manipulação de diversas estruturas do abdómen, por exemplo estômago ou fígado ou ainda bexiga, dependendo sempre da indicação dada pela “escuta”, com o consequente efeito sobre a cadeia somato visceral, cujos efeitos se manifestavam através do sistema nervoso autónomo relacionado com os diversos segmentos da coluna afectos aos ditos órgãos.
A amplitude de movimento pode ser significativamente aumentada em apenas uma sessão de trabalho nas estruturas viscerais.


O corpo é indiscutivelmente um sistema inteligente de tipo cilíndrico, interligado e tridimensional, cujas manifestações podem ser auscultadas pelas nossas mãos através do diálogo mecânico. 



A Vida Como Movimento e Emoção
Prof.ª. Dee Ahern (Barral Institute USA)
No seu livro “Osteopatia -Pesquisa e Prática”, A.T. Still, o seu fundador, lançou algumas máximas básicas:
O corpo tende a curar-se sozinho a não ser que o stress acumulado seja demasiado, resultando em desadaptação e doença.
A estrutura psico-neuro-musculo-esquelética está envolvida na maioria dos processos de doença.
Como terapeutas, estamos conscientes que as emoções ficam armazenadas no corpo, mas têm sido desenvolvidos poucos métodos práticos e reprodutíveis para palpação, diagnóstico e tratamento das emoções. Jean-Pierre Barral, o fundador da manipulação visceral, descobriu, ao longo de 40 anos de prática, tratando mais de 70.000 pacientes, que os desafios das disfunções viscerais não estavam unicamente relacionados com a sua estrutura. Tomou consciência que “A Nossa Biologia reflecte a Nossa Biografia”. Descobriu que se uma larga percentagem de energia ficar presa no processo de armazenamento sem se dissipar ou ser descarregada, haverá menos energia disponível para a adaptação a situações emergentes. A verdadeira questão tornou-se será a emoção 001% do problema ou 99% do problema? Como o saberemos?
O Dr. Barral encontrou respostas vindas do plexo nervoso (mais quente) e associou estas ao cérebro através das zonas frontais (mais quente). Também trabalhou com a palpação de estruturas profundas do cérebro que retêm emoções profundas, o sistema límbico, e criou um sistema de relacionamento entre as áreas de retenção emocional no corpo e estas estruturas cerebrais. Trabalhando com o estabelecimento de comunicação entre ambas, viu resultados nos seus pacientes. Eles falavam de “dor na boca do estômago” ou “sou normalmente introvertido, mas senti-me melhor... mais confiante depois da nossa última sessão, doutor”. Assim, a curiosidade do Dr. Barral acerca da relação viscero-emocional com a disfunção, levou ao desenvolvimento específico de técnicas concebidas para descarregar a energia emocional demasiadamente armazenada quer no corpo como na mente.
Por exemplo, alguém que perde o seu emprego sofre de dores de estômago. O cérebro recebe mensagens negativas e envia-as para o estômago. Isto causa contracções, cólicas. Agora, o cérebro recebe duas mensagens “eu não sou suficientemente bom e estou doente”. Esta informação liga-se a uma parte específica do cérebro e desencadeia sintomas depressivos.
Se a disfunção primária foi sentida no órgão físico (estômago), tratando-o, podemos ajudar a descarregar o conflito que a pessoa estava a processar, ou não. O cérebro nota uma mudança positiva e a pessoa, livre de dores, tem uma melhor hipótese de resolver o seu problema da perda do emprego. Ajudando o órgão a funcionar melhor contribuiu para a melhoria da auto confiança.
O exemplo anterior referia-se a tratar um problema emocional tratando um órgão. Vamos ver agora como tratar um órgão tratando um problema emocional.
Se a disfunção primária era a emoção (cérebro), então “despertar um pequeno algo” (wake up a little something) entre o cérebro e o seu órgão “alvo” principal, irá criar uma mudança no padrão da memória dos tecidos. O estômago era neste caso, o órgão alvo num padrão de stress social. Este paciente vem duma família de “em vez de quem és, mostra-me do que és capaz”. O estômago representa o nosso Eu em relação aos outros, no trabalho e em sociedade. Falta de auto confiança na infância, incapacidade de lidar com o falhanço, problemas com os superiores, originaram contracções, sensações de ardor e frequentes arrotos, tudo sinais de inquietação. A abordagem sintomática a nível estrutural proporcionará apenas alívio parcial e os problemas profundos latentes permanecerão. Ligando as estruturas cerebrais onde se encontra armazenada a emoção às estruturas viscerais onde ela se manifesta, a comunicação poderá ser restabelecida.
O Movimento parece ser uma forma dos órgãos comunicarem com o cérebro e vice-versa.
A ausência ou diminuição de movimento é como uma restrição dos estímulos cerebrais aferentes, afectando o vaivem da comunicação, por si só suficiente para diminuir o estado energético e a vitalidade do órgão afectado.
Desta forma, cada movimento ou alteração que o diminua, provoca enorme efeito. Fazendo a ligação certa, conseguindo a libertação correcta, a sua percepção é imediata nos dois extremos. Sentir-se-à no cérebro e no âmago da víscera. Haverá um aumento do movimento e em seguida sentiremos uma série de actividades de auto correcção até à sincronização das duas áreas. Há um sistema de consciência interno. Há diálogo através de forças mecânicas, há inteligência. Podemos afectar positivamente esta comunicação. O Dr. Jean Pierre Barral diz que a inteligência pode ser vista como “a coordenação da consciência”.
Quando lidamos com este aspecto do trabalho viscero-emocional existem, segundo ele, diversos princípios a respeitar:
“O objectivo é descarregar a tensão na mente e no corpo em pouco tempo e com precisão. Isto é ir muito profundamente dentro do sistema límbico”.
“Respeitar a vida profunda da pessoa”.
“A precisão é aquilo de que pessoalmente gosto”.
“Limpar uma pequena parte do inconsciente, e não permitir que a pessoa fique stressada por nada por você estar no seu limite”. 
“Respeitar a vida profunda de uma pessoa”, pois para o Dr. Barral tem de se merecer penetrar nos tecidos do corpo e da mente. O conhecimento anatómico, a especificidadena escuta e seguir a inteligência dos tecidos, são as máximas do trabalho do Jean Pierre Barral.

O Dr. Barral editou recentemente o livro “Understanding the messages of your body – How to Interpret Physical and Emotional Signals to Achieve Optimal Health" (Compreender as mensagens do vosso corpo – Como interpretar os sinais físicos e emocionais para Conseguir uma Óptima Saúde) bem como outro publicado em 1996, intitulado “ Manual Thermal Diagnosis” (O Diagnóstico Térmico Manual). Ambos falam das emoções e o seu relacionamento com os órgãos do corpo, fruto da sua observação ao longo dos anos de prática clínica.





MANIPULAÇÃO VISCERAL GINECOLÓGICA - Uma abordagem terapêutica evolutiva de disfunções pélvicas
Dra. Gail Wetzler, PT, CVMI, BI-D, Directora do Curriculum e Desenvolvimento do Programa do Instituto Barral
O sistema urogenital é muitas vezes uma das áreas de maior stress do corpo devido a disfunções lombo sagradas, problemas intestinais, armazenamento de emoções, gravidez, parto e menstruação. Para que a homeostase possa ocorrer na pélvis, o sistema de pressão pélvica tem de estar equilibrado. Em posturas de carga, as pressões gravíticas dos órgãos deveriam dirigir-se para a estrutura óssea envolvente. Qualquer desalinhamento das estruturas anatómicas pode ter um efeito dramático na fisiologia (Schamberger 2002). Os órgãos pélvicos precisam de espaço para de expandirem, deslocarem e rodarem de acordo com mudanças de pressão promovidas pela digestão e eliminação. Nas mulheres, factores como desordens digestivas, infecções, traumas, partos ou a menstruação podem incrementar a pressão temporariamente. Certos factores como doenças crónicas, medicamentos, adesões ou intervenções cirúrgicas, podem aumentar a pressão por um período de tempo mais longo, causando disfunções viscerais.
Os órgãos que estão dentro da cavidade pélvica devem mover-se! Senão, disfunções urogenitais podem originar sintomas de dor, obstipação, micção frequente, espasmos do elevador do ânus, cistites, desmenorreia, ou a síndrome de cólon irritável. O movimento normal dos órgãos estimula células específicas, que segregam fluidos para o deslizamento das superfícies entre os órgãos. O movimento normal dos órgãos também parece enviar um padrão de estímulos para o cérebro que os reconhece, utilizando-os como parte integrante de um sistema de comunicação entre o cérebro e outros sistemas (Wetzler, Amen et al 2006). 
Os órgãos também devem ser estáveis! Se não o forem podem ocorrer: debilidade do chão pélvico, prolapso de órgãos, incontinência da bexiga /intestinos ou lassidão dos ligamentos.
Disfunções urogenitais prolongadas podem originar dores pélvicas crónicas. Dores pélvicas crónicas diminuem a qualidade de vida de uma em cada quatro mulheres (Zondervan 1999). São a segunda causa mais comum das queixas ginecológicas, responsáveis por 20% das consultas e até 52% dos diagnósticos de laparoscopia (Ghaly 2000). Para muitas mulheres, não obstante diversos procedimentos clínicos, nunca haverá um diagnóstico definitivo. 
Muitas vezes o objectivo do tratamento é o alívio dos sintomas, em detrimento da sua resolução. Os relatórios de 2005 dos Centros de Controlo de Doenças (nos EUA), revelam que 64% das mulheres com dores pélvicas crónicas sofreram abusos físicos, psicológicos e/ou sexuais na tenra infância. Ansiedade ou depressões prolongadas, um sistema nervoso simpático facilitado* ou alterações nas glândulas hipotálamo-pituitária-suprarenais podem contribuir, igualmente, para dores pélvicas crónicas (Bremner 2003).
Algumas indicações para Tratamento Visceral

Dores Lombares – muitas vezes resultante de restrições urogenitais, histórias de quedas sobre o cóccix, partos com fórceps ou ventosas, desvios crónicos da posição do útero
Aderências – historial de cirurgia, infecções, trauma, partos ou abortos
Problemas de estabilidade – prolapso, debilidade muscular e lassidão dos ligamentos, hormonal
Dyspareunia - relações sexuais dolorosas
Anorgasmia – falta de orgasmo, falta de libido
Problemas Circulatórios – espasmos vasculares reflexos, síndrome de cólon irritável, doenças crónicas ou linfáticas 
Desmenorreia e dores pélvicas - fraca biomecânica dos órgãos, congestão de fluidos, nutrição, colisão de nervos, hormonal… múltiplos
Infertilidade – peritoneu parietal, restrições nos fluidos, disfunções nos tubos ou no colo do útero, endometrioses, desvio de órgãos e desequilíbrios endócrinos
Disfunções da bexiga – incontinência, infecções frequentes, inflamações, inflamação do músculo destrussor, cistite intestinal, síndrome uretral, remoção de um órgão associado e colapso das estruturas de suporte.
Uma avaliação da estrutura pélvica requer uma ESCUTA dos tecidos. Com a panóplia de possibilidades que podem desencadear disfunções pélvicas, deixar o corpo falar, deixar que os tecidos nos guiem para a disfunção mais importante para esta pessoa é a CHAVE para a resolução do problema. 
O Tratamento do local da restrição primária com manipulação visceral vai recriar, harmonizar e aumentar a comunicação proprioceptiva do corpo, melhorando o seu mecanismo interno para uma saúde melhor (Barral 2003). Lembrem-se, a pélvis é o centro de todas as forças do corpo. 
O seu papel é a transferência de qualquer carga em coordenação da FUNÇÃO. Quando se restaura a função pélvica aplicando o conceito visceral, as cavidades craniana, toráxica e abdominal devem ser consideradas no seu plano de tratamentos, pois isso permitirá a favorecer o relacionamento das ligações fasciais com os sistemas de pressão interna. 
A ESPECIFICIDADE da manipulação visceral ajudará os nossos pacientes muito para além do alívio dos sintomas, permitindo encontrar e tratar um padrão de compensações que se correlacionem com a sua resolução!